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| GRANTA 11 | Canções | «Sabemos que, na longa história das civilizações, ´canção´ se confunde com ´poesia´, esse repositório ancestral de barulhos sagrados, amorosos, lamentosos, guerreiros, jubilosos. Cantamos, em certa medida, como as aves cantam, e nem temos certeza de quem imita quem, se os bichos, se os homens. Mais do que, prosaicamente, um ´trecho musical´, a canção é, como a oração, um modo de exprimir necessidades e vontades fundamentais.»
— Pedro Mexia
«Quem sabe do que uma canção é capaz? Esse artefato tão simples e ao mesmo tempo tão complexo é também um dos atalhos mais antigos inventados pelo ser humano para lidar com questões de vida e morte. Uma canção pode virar toda uma existência pelo avesso; pode ser um vetor de sofrimento, alívio, transcendência, epifania ou tudo isso junto; pode causar uma guerra ou interromper uma guerra.»
— Gustavo Pacheco | | |
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| GRANTA 10 | O Outro | «O ´eu´ e ´o outro´ acompanham‑nos desde sempre, sobretudo no confronto, episódico ou quotidiano, com as grandes diferenças humanas. Encontro ou choque de civilizações, como no tempo das navegações e do colonialismo; diferenças de classe e luta de classes; o campo e a cidade; o nacional e o estrangeiro; o familiar e o desconhecido. Não que a opacidade do ´outro´ contraste em definitivo com a imediata legibilidade do ´eu´, ilusão da qual Freud nos libertou; mas esses dois termos hão‑de ter um qualquer significado, e com eles fomos construindo oposições, dualismos, ideologias, simplificações.»
— Pedro Mexia
«Nos últimos quatro anos, 1181 yanomami morreram no Brasil de desnutrição, pneumonia, malária e outras doenças. Em uma das passagens mais lapidares de A queda do céu, diz Davi Kopenawa: ´Os brancos não sonham tão longe quanto nós. Eles dormem muito, mas só sonham consigo mesmos.´ Oxalá os textos aqui reunidos nos ajudem a sonhar com outros além de nós mesmos.»
— Gustavo Pacheco | | | |
| GRANTA 10 | Revoluções | «A minha memória da revolução é pueril: um grito ao amanhecer anunciando guerra em Lisboa entrelaçado com a promessa de que acabou o tempo das reguadas e com uma aula de canto coral. A imagem que me ocorre não tem cravos vermelhos no cano das metralhadoras. Não é também a dos "sans-cullote" a avançarem sobre a Bastilha, nem a do assalto ao Palácio de Inverno, reconstituído por Eisenstein. Essas são revoluções sem nada de pueril. Foram feitas de sangue e fúria. Talvez também de sonhos, mas é frequente os anseios revolucionários envelhecerem mal. [...]» —CVM | | | |
| GRANTA 9 | Rússia | «Escolhemos para este número o tema Rússia antes de começar a invasão da Ucrânia. O que fazer perante um acontecimento tão grave e intolerável? O pior seria cancelar. A Rússia não se confunde com os regimes que tem em cada momento, ainda que as tentações imperiais e despóticas venham de longa data. Esta edição tem presente o último século, o czarismo, a revolução, o estalinismo, o fim da URSS, mas também os extraordinários escritores de Oitocentos, a nação‑continente, as missões espaciais ou as vanguardas artísticas.»
— Pedro Mexia
«Aquilo que a Rússia nos deu e continuará nos dando não vem apenas dos russos, mas também dos muitos criadores de outras terras que nela se inspiraram, como mostram os textos desta edição. Da cadela Laika às matrioskas, do czar Nicolau II a Vladimir Putin, das estepes em brasa à Moscou dos oligarcas contemporâneos, aqui há Rússias para todos os gostos e apetites.»
— Gustavo Pacheco | | | |
| GRANTA 9 | Comer e Beber | «Somos escravos da comida; escravos voluntários, é certo. Temos as nossas vidas organizadas em torno de rituais alimentares. Poderia traçar-se o retrato de cada um de nós a partir dos hábitos comensais, de acordo com as idiossincrasias e as diferentes circunstâncias de tempo e de lugar; uma biografia gastronómica, por assim dizer. A literatura já o faz há muito. Comer pode ser uma forma de redenção. E também, graças a deus, uma elaborada forma de pecar. Jorge Luis Borges imaginava o paraíso como uma espécie de biblioteca; se não for pedir muito, que seja uma biblioteca, de preferência, onde se possa comer e beber.» —CVM | | | |
| GRANTA 8 | Medo | «Há no medo qualquer coisa de íntimo. Não é de se andar a exibir por aí, sem mais nem menos. Nunca confessaremos a ninguém todos os nossos medos. Nem a nós próprios. Alguns, de tão recônditos, manifestam-se por caminhos ínvios. São múltiplas as suas declinações. Condenados ao medo, é o que soubermos fazer dele que ditará o desastre ou a salvação. Como uma flor carnívora, o medo fascina e repugna.» —CVM | | | |
| GRANTA 8 | Longe | «Tão Longe, Tão Perto, título de Wim Wenders, sugere que estas coordenadas antagónicas admitem ambiguidade, reversibilidade. O longe e o perto enquanto factos físicos não determinam forçosamente distância nem proximidade, porque assumem variadas formas, como as poéticas e as especulativas. O tema Longe permite diferentes declinações, individuais ou colectivas, em vastas distâncias percorridas ou com aquilo que está ao alcance da mão. Da América a Pequim, da História à política, da família ao espaço, a pergunta repete‑se: o que é o perto e o que é o longe?»
— Pedro Mexia
«Ir até o "fim do mundo", encontrar criaturas extraordinárias e depois viver para contar a história: algo tão antigo quanto a humanidade, e que se confunde com a própria origem da literatura. Se a distância física é a manifestação mais evidente disso, há muitas outras dimensões do Longe, começando pelo tempo; sem falar que muitos séculos e milhares de quilômetros às vezes parecem pequenos hiatos se comparados à imensa distância que pode existir entre duas pessoas que não se amam demais.»
— Gustavo Pacheco | | | |
| GRANTA 7 | O mundo é um palco | «Foi a poesia, antes da psicanálise, que nos tornou conscientes desta perturbante verdade existencial: somos múltiplos, habitados por heróis e vilões que se digladiam em silêncio. O que não temos dentro de nós, experimentamo-lo por empréstimo. Ouvimos os outros, reais ou imaginários, para vivermos outras vidas, escapando momentaneamente à nossa. Somos grandes, contemos multidões. Somos, cada qual à sua maneira, depósitos de histórias verdadeiras e inventadas, mas também fabricantes de realidades fantasmáticas: sonhos, fantasias e alucinações.» —Carlos Vaz Marques | | | |
| GRANTA 7 | Sono/Sonho | «Tenho um sono excelente, gabava‑se Freud, e sabemos mais ou menos o que isto significa; mas será que tinha também sonhos excelentes? Se a mente nunca dorme, então o sonho é o guardião do sono. Como é, aliás, o guardião da vida desperta. Mas o que é o sonho? Uma profecia? Um caos insignificante de estímulos e incongruências? Um conjunto de dramatizações e deslocamentos? Ou a vinda à superfície de desejos reprimidos?» — Pedro Mexia
«Sono e sonho são experiências universais, comuns a todos os seres humanos, e ao mesmo tempo intensamente individuais. A coexistência dessas duas dimensões fica mais evidente em certos momentos da história, como o que estamos vivendo agora. É um momento oportuno para pensar no que o sono e o sonho têm a nos dizer, e é disso que trata esta edição.» — Gustavo Pacheco | | | |
| GRANTA 6 | In Memoriam | «In memoriam de quê, de quem? Como nos alerta um dos textos desta edição, devemos seguir a prática avisada de um grande biógrafo inglês, Richard Holmes: escrever na página da direita os factos sobre o biografado e na página da esquerda as ´impressões, interpretações, dúvidas, dificuldades´. Qualquer exercício de memória, como qualquer in memoriam, consiste nessa coexistência de factos e ideias sobre os factos, instável nuvem de imagens, incertezas, ficções.» — Pedro Mexia
«Lembrar é sempre lembrar de algo que não existe mais. Nesse sentido, toda memória remete à transitoriedade da vida: ´Tudo é efêmero, tanto quem se lembra quanto aquilo que é lembrado´, diz uma das Meditações de Marco Aurélio. Todo memento é, em alguma medida, memento mori, e os textos que você lerá a seguir estão aqui para nos lembrar disso.» — Gustavo Pacheco | | | |
| GRANTA 6 | Noite | «Sabe-se lá o que a noite propicia e proporciona. Perdi a conta ao número de vezes em que me foi garantido que de noite todos os gatos são pardos. Sobre tudo, podem escrever-se tratados objectivos e rigorosos, descritivos, científicos, indesmentíveis; ou: podem procurar-se elos ocultos, memórias soterradas, pequenas verdades íntimas. Na noite cabe tudo: o tangível e o imaginado, a insónia e o sono, o sonho e o pesadelo, o cansaço e o descanso, a boca que beija e a boca que morde, o isqueiro e a lâmina, o salto e o susto, a sombra e a sombra da sombra.» —CVM | | | |
| GRANTA 5 | Falhar melhor | «Falhar melhor. O temperamento de cada um ditará se há na expressão de Beckett pessimismo, optimismo ou resignação.
Ela é de tal modo poderosa, que corre o risco de vir a banalizar-se. Talvez já esteja à beira do lugar-comum. Dá bons títulos. [...] O desafio lançado aos autores que fazem este número está contido na brecha aberta entre o optimismo e o pessimismo, entre a ideia de falhar e a perspectiva de aperfeiçoamento. Um salto sem rede.» —CVM | | | |
| GRANTA 5 | Traição | «A propósito do crime de "lesa‑majestade", ou seja, de traição ao rei, dizem as Ordenações Manuelinas (1521) "que é a pior cousa, e mais abominável crime que no homem pode haver, a qual os antigos sabedores tanto aborreceram, e estranharam, que a compararam à gafém [lepra], porque esta enfermidade enche todo o corpo sem se nunca poder curar […]; o erro da traição não somente condena o que o comete, mas ainda empece e infama todos os que de sua linhagem descendem, posto que culpa não tenham". Quinhentos anos depois, ainda consideramos a traição "abominável", embora nem todas as traições, e certamente não a traição por contaminação genealógica. Este número da Granta investiga diferentes traições, em diferentes domínios, com diferentes motivos. Serão essas traições todas iguais, ou haverá traições menos iguais que outras, traições compreensíveis, virtuosas até?» — P.M.
«No dia 2 de agosto de 1914, Franz Kafka anotou em seu diário: “Hoje a Alemanha declarou guerra à Rússia. De tarde fui nadar.” No dia 12 de maio de 2020, anoto em meu diário: “Hoje morreram 881 pessoas no Brasil por causa do coronavírus. De tarde fui escrever a apresentação para a Granta.” Jamais teríamos acesso ao diário de Kafka, assim como a muitas de suas obras, se seu amigo Max Brod não tivesse ignorado o pedido de queimar todos os seus manuscritos após a sua morte. Viva a traição! Onde estaríamos sem ela?» — G.P. | | | |
| GRANTA 4 | África | «Neste número da Granta não se pretende de modo algum retratar África. O que aqui se apresenta são "partes de África". Pelo confronto entre os textos traduzidos da Granta de língua inglesa com os inéditos de autores de língua portuguesa escritos para esta edição é possível perceber de um modo muito agudo quão diverso é um continente tantas vezes tratado como entidade homogénea. Todos estes textos, todos estes autores são casos singulares. Nada disto é a África, tudo isto é África.» —CVM | | | |
| GRANTA 4 | Cinema | «Cento e vinte e quatro anos depois da sessão dos Lumière, já não nos assustamos quando o comboio avança na nossa direcção. Ou será que ainda nos assustamos? Habituámo-nos às imagens em movimento, mas continuamos assombrados com a sua força visual e emotiva, tão assombrados como em 1895. E porque entretanto transitámos de uma civilização do verbo para uma civilização da imagem, o cinema e as outras imagens audiovisuais confundem-se agora com o nosso imaginário. De modo que não sabemos o que vimos verdadeiramente visto ou o que imaginamos por termos visto.
Alguns dos textos desta edição confirmam uma evidência: a evidência de que o cinema é, desde a infância, uma das maneiras de conhecermos o mundo. Conhecemos o mundo cinematograficamente, quer dizer, incorporámos na nossa forma mentis uma linguagem, uma imagética, uma gramática, uma suspensão voluntária da descrença.»
— P.M.
«Você sabe quem foi Léon Bouly? Eu também não sabia. Pois Bouly foi o responsável por inventar um aparelho que batizou de cinematógrafo, do grego kinema, “movimento”, e graphein, “escrever”. Se faço aqui uma reverência a Bouly, não é só por ele ter criado o termo que mais tarde seria abreviado para cinema, mas também porque, ao criá-lo, ele foi a primeira pessoa a associar cinema e escrita.
Esta edição é dedicada ao vasto e inesgotável território demarcado por Bouly: escritores que fazem filmes e cineastas que fazem livros; contos que parecem roteiros e roteiros que parecem contos; imagens filtradas por palavras e palavras filtradas por imagens; e, sobretudo, o cinema como mitologia, como mote e como método, a quem a literatura presta sua homenagem.»
— G.P. | | | |
| GRANTA 3 | Futuro | «O futuro já não é o que era. As grandes narrativas esgotaram-se, as colecções de ficção científica perderam adeptos em favor das sagas de fantasia, a Previdência (e a Providência) é deficitária, o planeta aqueceu, e o teletransporte, que a série televisiva Espaço 1999 nos prometeu, não chegou a acontecer. Passámos, no espaço de um século, do entusiasmo tecnológico e científico (a antecipação das novelas de Júlio Verne) ao no future que a geração punk anunciou. E agora até esse anúncio nos parece temerário, uma vez que a velocidade do futuro deixou para trás as frases sobre o futuro.» — PM
«Futuro? Que futuro? Nunca faço planos pro futuro, mas ele faz cada um pra mim… A frase de Millôr Fernandes bem poderia ser a epígrafe desta edição de Granta, que traz diferentes olhares sobre quão indomesticável é o futuro e, ao mesmo tempo, quão indomesticável é nosso desejo de domesticá-lo. Aqui estão textos que falam sobre o futuro pessoal, o futuro existencial, o futuro político, e como todos eles se relacionam. Haja passado para tanto futuro. Diz Philip K. Dick: O futuro é mais coerente do que o presente, mais animado e dotado de um objetivo, e, num sentido real, mais sábio. Tomara que ele esteja certo.» — GP | | | |
| GRANTA 3 | Casa | «Todos temos uma história pessoal para contar a partir das casas que habitámos. Mas também a partir daquelas sobre as quais lemos e que imaginámos. É esse o desafio do terceiro número da Granta. "Os as casas as casas as casas / mudas testemunhas da vida". Celebremos as casas: casulos de memória onde se guardam ilusões que o tempo desfez, gestos que não se repetirão, fragmentos e ruínas do que fomos. Aquilo que somos.» —CVM | | | |
| GRANTA 2 | Deus/es | «Deus existe, acreditemos ou não. Eu não acredito mas sei que existe, de tanto ter lido a respeito dele. Tal como existem Romeu e Julieta, D. Quixote e Sancho Pança, as infelizes Emma Bovary e Anna Karénina, o triângulo trágico formado por Simão Botelho, Teresa e Mariana ou o casal Bentinho e Capitu. Seja matéria de fé religiosa ou simples constatação cultural, a existência de Deus (ou de deuses) impõe-se-nos desde tempos imemoriais. Antes de todos os outros, um autor anónimo criou o mundo ou foi criado por ele.» — Carlos Vaz Marques | | | |
| GRANTA 2 | Poder | «O querer, o poder, se divididos são nada, juntos, e unidos são tudo. O querer sem o poder é fraco, o poder sem o querer é ocioso, e deste modo divididos são nada. Pelo contrário o querer com o poder é eficaz. o poder com o querer é activo, e deste modo juntos, e unidos são tudo.» —Padre António Vieira | | | |
| GRANTA 1 | Eu | «A primeira pessoa do singular é o ponto de partida literário por excelência. Dele emerge, nos melhores casos, um olhar capaz de nos restituir o mundo a partir de uma perspectiva inaugural, permitindo-nos questionar e reavaliar não apenas o que nos rodeia e o que vemos mas acima de tudo aquilo que somos. Dizemos "eu" a todo o momento, mesmo quando julgamos estar a enunciar verdades universais. Pediu-se aos autores portugueses que compõem este número inicial que interpretassem tão livremente quanto possível o mote que lhes foi proposto.» —CVM
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| GRANTA 1 | Fronteiras | «Imaginando que podíamos engolir o Atlântico, quem desejaria realmente fazê‑lo desaparecer? Deixemo‑lo separar‑nos, talvez seja assim que mais intensamente nos une. A primeira tendência do cosmopolita é rejeitar as fronteiras. Ler é, por definição, um acto de cosmopolitismo. Eis um dos paradoxos admiráveis da literatura: sou mais eu sendo outro. É nesse espírito paradoxal que inauguramos esta nova etapa da Granta, num equilíbrio poético em que aquilo que nos une por vezes nos separa, e aquilo que nos separa também nos une.» — Carlos Vaz Marques | | | |